Desconversão
3.1 – Definições
Por muitos meses após a minha
desconversão, eu não me considerava teísta ou ateísta. Isso porque naquele
tempo, eu presumia que a definição de teísmo era: Crença em Deus. E
correspondentemente ateísta era a falta da crença em deus.
E esses rótulos não fazem o menor
sentido, a menos que você defina o que você entende da palavra ‘deus’.
É claro que se alguém define como
um ser sobrenatural e invasivo, então eu era um ateu. Entretanto, é óbvio que
se poderia dizer que deus era coisas que obviamente existiam. Como por exemplo:
O conjunto completo do universo em si ou as forças criadoras do universo. Onde
força criativa significa tudo desde nucleossíntese estelar até a engenharia
humana.
Com respeito a essas definições de
Deus eu seria teísta.
Dizer que alguém é ateu em relação
a essas definições seria plenamente absurdo. Seria o mesmo que dizer que não
acredita no universo inteiro ou que não acredita em nucleossíntese estelar e na
engenharia humana.
Então eu continuei com essa
posição filosófica por um bom tempo. Determinado a apontar aos auto proclamados
teístas e ateístas o quão absurdo era sua posição, se eles não definissem
primeiro seu uso em relação a palavra deus.
Duas pessoas discutindo sobre a
existência ou não existência de Deus, estava claramente desperdiçando o seu
fôlego se eles em primeiro lugar não definissem o que eles queriam dizer por
‘deus’. Entretanto, eu finalmente cruzei com a definição adequada de teísmo e
percebi que ateísmo é uma negação intuitiva do teísmo. Então pessoas que não
eram teístas eram ateístas.
Essas definições se encaixavam na
maioria dos debates que eu vi na internet. Onde em um lado do debate há um
teísta cristão argumentando a existência de um ser sobrenatural interveniente e
do outro lado havia um ateísta, argumentando que os argumentos do cristão eram
inadequados para estabelecer a existência desse ser.
Então por essa definição eu era um
ateu. Essa foi uma experiência estranha, liberadora, e um pouco engraçada
perceber isso tudo: Eu era um ateu.
Após todos esses anos pensando que
os ateus eram cínicos, niilistas e pessoas negativas, eu percebi que eu mesmo
era um ateísta. Eu era um ateísta!
Eu repetia isso muitas vezes
enquanto eu caminhava para o mercado nesse dia de descoberta. De todas as
pessoas EU, outrora um cristão por toda a vida, e uma pessoa implacavelmente
positiva, agora, sou um ateu.
Essa descoberta me deixou
extasiado. Até aquele momento eu nunca havia encontrado um ateu que tivesse
trilhado o mesmo caminho de diálogo que eu. Mesmo o professor que era uma
pessoa muito gentil e muito paciente acima de tudo, era muito rude comparado
comigo.
Uma coisa que eu notei em muitos
ateus que eu conhecia quando teísta, o professor incluído, era a tendência de
cometer a falácia do apelo para o ridículo. Alguns ateus que eu conheci,
parecem fazer isso compulsivamente, rejeitando alegações puramente porque
parecem incomuns ou contrárias ao senso comum. Entretanto eu aprendi em
diversos exemplos em minhas aulas de ética que:
‘Bom Senso’ o que usualmente é um
apelo a opinião popular, não é uma base sólida para um argumento.
Um exemplo, que o meu professor de
ética usou, foi o caso de Stella Liebeck, que processou o McDonalds, porque ela
se queimou com o café. Só de trazer esse exemplo a tona, já disparou
comentários da classe sobre como os americanos adoram processar e como era
ridículo ela processar porque ela tinha se queimado com o café.
Isso foi assim até que o professor
disse naquela época, os franqueadores do McDonald eram obrigados a manter o
café a 83º C e que a mulher sofreu queimaduras nas suas coxas, nádegas e
genitais, que necessitou 8 dias de internação para enxertos da pele e dois anos
de tratamento médico.
Depois que o professor revisou
esses fatos, a classe sentou e ficou em humilde silêncio. Eu pessoalmente
fiquei chocado com o quão tendenciosa minha visão da situação era, antes de eu
obter todos os fatos, antes de verdadeiramente entende-los.
Esse exemplo, revelou para mim,
que algumas vezes quando casualmente apelamos para o ‘Bom senso’, nós temos
amedrontador potencial de não sermos somente ignorantes e desinformados, mas
também terrivelmente cruéis com as mesmas
pessoas que estaríamos defendendo se ao invés de antes de julgar
tivéssemos obtidos todos os fatos.
Como o professor de ética mostrou,
o problema com o ‘Bom Senso’ com essa necessidade de criticar aquilo que não é
familiar é que ele é muito desinformado para ser confiável. É central para alegações incomuns que se faça
uma investigação profunda.
Eu já vi ateus compulsivamente
rejeitando alegações, simplesmente baseadas no fato de elas serem incomuns.
Para ser justo, eu também vejo teístas compulsivamente rejeitando a evolução e
compulsivamente aceitando a validade da experiências religiosas, usando o mesmo
raciocínio baseado no ‘Bom Senso’.
Com o tempo, eu conheci ateus com
a mesma abordagem de discussão que eu. Pessoas que se doeram muito para ficarem
calmos, diplomáticos e justos. Eu comecei a me dar conta que eu estava longe de
estar sozinho nesse tipo gentil de ateísmo. Eu descobri que esses ateus com
discurso mais tranquilos estavam em toda parte.
Somos em geral, pessoas quietas,
que ninguém imagina que são ateus e são assumidas como sendo ‘cristãos’. E
outra coisa que eu percebi com o passar do tempo. Que mesmo os ateus mais
radicais tem um lado mais suave, quando você fala com eles em particular. Na
maior parte do tempo eles são rudes, não por pura maldade, mas por sua
frustação, de encontrar repetidas falácias que permeiam o pensamento religioso
e seus ressentimentos que os impactos negativos que a religião teve e tem na
sociedade, como exemplo a destruição da torres gêmeas no 11 de setembro.
Uma posição que eu me agarrei
brevemente foi o agnosticismo.
A posição agnóstica em geral
significa, a crença que nós não temos evidências suficiente para saber com
certeza se o Deus existe ou não existe. Essa posição vem principalmente de uma
crença que os não ateus tem sobre o ateísmo e essa é a crença que a maioria dos
ateus, são ateus fortes, que significa que o que é a CRENÇA que o Deus teísta
NÃO EXISTE.
De relance parece que essa é uma
definição idêntica do ateísmo que eu fiz anteriormente, que pode ser
reformulada como sendo a FALTA de crença no Deus teísta, mas na verdade, é
muito diferente.
Para poder afirmar que ‘Deus não
existe’ eles teriam que saber tudo sobre o universo e também deveriam saber que
o nosso universo não contém um Deus. Como um agnóstico claramente afirma isso é
humanamente impossível. Nós somos seres limitados, e nossa percepção e
conhecimento são limitados também, e em uma escala infinitesimalmente menor que
o universo inteiro.
Entretanto, eu nunca conheci um
ateu que quando pressionado se identifique com o ateísmo forte. Ao invés disso,
todo ateu que eu vi falar nesse assunto, se definiram com a definição que venho
usando que é simplesmente a falta de crença em Deus.
O que significa que esses ateus
não estão afirmando que SABEM que Deus não existe, eles nem estão afirmando que
tem boas evidências de que Deus não exista. Ao invés disso, eles não se sentem
persuadidos pelos argumentos que os teístas tem apresentado. Eles simplesmente não encontraram evidências
ou boas razões o suficiente para persuadi-los a acreditarem no teísmo.
Ateus nesta categoria podem ser
quase sempre identificados como ateus agnósticos. O que significa que eles são
ateus, porque eles não tem uma crença em um ser sobrenatural e eram agnósticos,
porque eles não alegam SABER que um ser sobrenatural não existe. Então, baseado
em minha experiência, todos os ateus são agnósticos e a maioria dos agnósticos
são ateus, porque quase sempre eles não tem uma crença positiva em Deus.
Quando eu era teístas, eu via os
agnósticos como sendo pessoas que fazem concessão ao teísmo, porque os
agnósticos não alegam saber que Deus existe. Eles acham que as pessoas estão
logicamente justificadas a acreditar Nele. Apesar de não terem evidências
sólidas para Ele. Esse não é o caso.
O meu agnosticismo me diz sem
evidências as pessoas não estão justificadas a acreditar no Deus teísta, da
mesma forma em relação a acreditar em fantasmas, paranormais, duendes, óvnis,
fadas, deuses politeístas ou reencarnação sem evidências sólidas.
Pelas mesmas razões que devemos
ser agnósticos para o Deus teísta, nós também devemos ser agnósticos para a
existência de todas essas coisas. O agnosticismo não dá ao Deus teísta nenhum
espaço a mais para existir do que dá para qualquer uma dessas coisas e seres
mencionados acima. Já que dizer que o Deus teísta é o mesmo que afirmar que
fadas, duendes, óvnis, também existem.
Neste ponto em minha jornada, eu
estabeleci duas hipóteses. Uma era que os teístas usavam argumentos ruins para
estabelecer a existência do Deus teísta. Isso fez de mim um ateu agnóstico. O
outro era o conceito de deus é maior que nós todos, mas que poderia ser
argumentado com algum sentido em termos de um deus não teísta. Neste ponto eu
era um panteísta, mas genericamente eu era um não – Teísta. Que é o termo que
as pessoas nessa posição usam algumas vezes para referir a si mesmas.
Enquanto eu continuava minha
jornada, u procurei essas hipóteses em paralelo.
0 comentários:
Postar um comentário
As opiniões expressas ou insinuadas pertencem aos seus respectivos autores e não representam, necessariamente, as da home page ou de quaisquer outros órgãos.