Desconversão
3.4 O que é Deus? - A história da Bíblia e de Deus – Parte II
A medida que eu continuo a ler
sobre as contribuições de P para o conceito de Deus, eu finalmente comecei a
ver algumas similaridades com a forma de teísmo que eu acreditava e que me foi
ensinada como cristão. De acordo com P, Deus estaria além da compreensão de
seres humano (êxodos 33:18). A completa realidade de Deus vai sempre iludir
nosso entendimento, ao invés disso apenas a manifestação de Deus pode ser vista
a ‘Glória de Yahweh’.
Esse conceito de Deus teísta foi
mais desenvolvido pelo Judeu-Grego, Fílon de Alexandria em 30 AEC. De acordo
com Fílon, a essência de Deus era incognoscível envolvida em um mistério
impenetrável (a razão disso é porque nenhum deles viu a deus, então deduzem
coisas como é um humano, é um ser, é algo que não conhecemos ou vimos, isso
acontece porque eles ao criarem um mistério, não puderam resolver esse
mistério). A punica maneira pela qual o conhecíamos era através de seus poderes
que ele usava para interagir com o nosso mundo.
Deus usava seu poder para se
comunicar conosco, porque o nosso intelecto ‘limitado’ não poderia compreender
suas propriedades. Os seus poderes nos permitiam vislumbrar uma pequena parte
da realidade que está além de qualquer coisa que possamos conceber.
Eu abandonei até mesmo essa
concepção mais misteriosa do Deus teísta por várias razões. Que eu solidifiquei
depois da minha desconversão. Uma ao menos era que esse tipo de Deus teísta foi
gerado diretamente através das ideias politeístas, mas foi bom ver uma
concepção de Deus que era mais próxima ao ‘Alicerce de Todos os Seres’ do
panteísmo. O que nessa época eu sentia que poderia ser a verdadeira foram de
Deus. Eu encontrei uma possível expressão do Deus do Panteísmo no conceito
védido de Brahma no inicio de ‘Uma história de Deus’.
Brahma parece ser o poder que
sustenta tudo (no hinduísmo), o mundo todo era sua atividade divina
desenrolando-se através do misterioso ser Brahma. Que era o meio de toda a
existência. Os védicos Upanizades eram capazes de cultivar um senso de Brahma
em todas as coisas (muito parecido com os teístas que dizem ver deus em toda a
natureza ou em todas as coisas criadas). E fazendo isso desvendavam o alicerce
oculto de todos os seres, na percepção da unidade diante de diferentes
fenômenos.
Brahma não era uma deidade para
ser pensada ou temida pela humanidade, era algo a ser vivido. A medida que eu
seguia a leitura, eu vi que os judeus mesmos começaram a conceitualisar Deus de
uma maneira muito similar a Brahma, cultivando Deus nos menores detalhes da sua
vida diária. Essa era a visão de Judeus como Rabino Hilel o Ancião, em 70 CE.
Entretanto essa consistência dessas imagens aparentemente convergentes de Deus
começaram a se desfazer a medida que eu pensava sobre elas, o que significava
que Deus era o Alicerce de Todos os seres? Deus seria o mundo que vemos ou
estaria além do que vemos? A realidade Emana de Deus ou Deus é a realidade em
si? Deus seria as forças criadoras do universo ou as Leis naturais em cima da
qual essas forças se baseiam?
Deus viveria através dos seres
humanos ou Deus seria uma realidade fora dos seres humanos? Deus seria
simplesmente tudo ou deus seria algo específico ao qual deveríamos buscar? Seria Deus a base que tomaria nossas ações possíveis ou seria Deus a energia
com a qual agiríamos?
Todos esses conceitos de um deus
não teísta eram diferentes e todos significavam coisas diferentes.
O que lentamente eu estava
percebendo, a medida que Armstrong mostrava mais e mais conceitos de Deus que
se expressaram ao longo dos séculos, é que talvez Deus fosse só a maneira como chamamos
as coisas que nós não entendemos ou talvez fosse como chamamos emoções
poderosas que possuímos. Ao descrever Deus talvez o que estejamos realmente
descrevendo não são coisas fora de nós, mas a nossa própria psicologia. Nossas
conexões com outras pessoas. O que sentimos quando nos maravilhamos com as
coisas do mundo que nós de fato entendemos. O nosso senso de mistério sobre as
coisas do universo que nós não entendemos, talvez deus seja apenas o mistério e
não a descoberta do que este mistério seria. Todas essas coisas tem sido
chamadas de Deus!
Entretanto elas representam coisas
muito diferentes sobre a realidade física. E ao dizer que tudo é Deus é
profunda a sua própria maneira, mas dizer assim também diminui a qualidade
especial da perspectiva de cada individuo. Mais uma vez, talvez o que estamos
chamando de Deus, não sejam coisas exteriores a nós, mas sentimentos que temos
quando vivenciamos essas coisas. Nossa própria psicologia.
Mesmo os judeus do primeiro século
que estudaram com o rabino Yochanan parecem ter capturado esse fato
subconscientemente, a medida que eles desenvolveram o conceito de Deus, eles
pararam de doutrinariamente forçar uma teologia específica e ao invés disso
estabeleceram a teologia como um assunto privado, subjetiva a cada pessoa. Mas
como minha introspecção revelou o conceito de deus não era apenas subjetivo
entre indivíduos diferentes, mas também subjetivo dentro do mesmo individuo a
cada instante. Em um momento deus significava para mim a minha conexão com
outras pessoas, e em outro deus significava as leis inspiradoras do universo, e
em outro dia deus significava além da aspiração da experiência do universo em
si. Talvez deus não fosse uma coisa. Talvez Deus fosse um sentimento. Talvez
deus fosse uma experiência. Talvez deus fosse uma expressão da nossa
psicologia.
De inicio isso foi uma
possibilidade desconcertante para considerar. Alcançar uma realidade fora de
mim sempre foi uma parte importante da minha identidade e é até hoje. De inicio
eu achei que desistir da crença de buscar uma única qualidade unificadora da
realidade que pudesse ser chamada de Deus significaria deixar esse
comprometimento de lado de sair de mim e me conectar com uma realidade maior.
Na verdade, deixar de usar a palavra ‘deus’ era a única coisa que eu não podia
aceitar de inicio, eu tentava de alguma maneira dar sentido a ela ao invés de
deixa-la ir.
Após tolerar mais alguns poucos
capítulos das explicações de Armstrong sobre as várias interações históricas
subjetivas do conceito de Deus, eu fiquei frustrado e pulei para o último
capítulo do livro.
Que diabos era deus no mundo
moderno?
eu achei a resposta de Armstrong nem um pouco satisfatória. O capítulo final dela termina com ela falando sobre os vários tipos de concepção histórica de Deus para tentar encontrar o que mais ‘cabe’ para a era moderna.
Que conceito de Deus pode
funcionar para nós?
Mas como algo que pode ser
selecionado tão subjetivamente, como se estivéssemos comprando um par de
sapatos certo ou um bom livro para ler, poderia ser imaginado como o ápice
final de toda realidade¿ Não!
Existe um terrível problema sobre
todo esse raciocínio sobre Deus. Um problema terrível, que começou a
cristalizar lentamente, mas constantemente a medida que eu lia o raciocínio
teológico de pessoas como John Shelby spon, Karen Armstrong e outros pensadores
religiosos da história. E esse problema era EVIDENCIA!
Nenhum desses conceitos de deus
era motivado por evidencias verificáveis e agregadora. E sem evidência, nós
poderemos estar debatendo sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete ou
qual a melhor estratégia para o Frodo Bolseiro pode usar para levar o Anel para
Mordor.
O processo teológico está completamente
contido em nossas mentes e nossos sentimentos. Sem nenhuma base na realidade
física. Essa descoberta da falta de base de evidencia era um problema para o
teísmo, mas também para qualquer conceito de deus, incluindo o panteísmo, se
deus é só um nome dado as coisas as quais nós temos evidência então usar a
palavra ‘deus’ para descreve-lo é sem sentido e não ajuda em nada. Por causa da
bagagem teológica que a palavra carrega. Se chamarmos o universo natural de
‘DEUS’, nós arriscamos a implicar que ele tem propriedades teísticas, quando
não é o que queremos dizer. Esse foi um dos grandes erros de Einstein como um
ateu de fato:
‘Eu quero saber como Deus criou
esse mundo ... Quero saber seus pensamentos: o resto são detalhes. ‘
‘Eu não creio em um deus pessoal e
eu nunca neguei isso mas eu deixei bem claro.’
Este fato que incomoda ateus até
hoje, Quando teístas afirmam que ele era crente.
Se deus é usado para se referir a
algo além do nosso entendimento, como sendo algo poderoso e inteligente que
procedeu o universo ou o alicerce de nossa realidade que não podemos entender
ou uma consciência universal que guia todas as coisas. Então outro problema
ocorre .
Pela própria natureza dessas
afirmações, nós não temos evidências para elas. De toda forma, enquanto eu
pensava nisso por vários meses, eu não podia continuar justificando o uso da
palavra ‘deus’ para descrever qualquer aspecto da realidade. Mais uma vez, talvez deus fosse uma maneira
de chamar as coisas que nos fazem sentir de uma certa maneira. Talvez no fim a
melhor maneira de pensar sobre deus, seria um sentimento que experimentamos.
Fora a nossa própria psicologia,
porque era tão difícil para as pessoas concordarem com o que era deus¿ Mas era
tão fácil para eles concordarem que havia um deus, porque deus é um
‘sentimento’ (na verdade, é uma imagem que recebe alguma forma de sentimento
que o torna real, assim como nossas memórias possuem emoções que podemos
senti-las toda vez que pensamos nela). Um sentimento de um principio
fundamental e do deslumbramento.
Um sentimento que todas as pessoas
compartilham e experimentam. Não uma coisa, mas um sentimento que usamos para
chamar de nossas EXPERIÊNCIAS com deus, Frequentemente algumas das experiências
mais significativas de nossas vidas. E de muitas coisas durante a história
fizeram as pessoas terem esse sentimento e o transformarem em algo além de um
sentimento, em algo real.
Então uma série delas foram
chamadas de deus, ou evidência de deus. A explicação fazia muito sentido.
A medida que eu continuava minha
jornada ao longo de vários anos eu comecei a solidificar a minha até então vaga
ideia dos princípios de evidencia e razão que me levaram a uma conclusão. De
fato, eu comecei a solidificar o meu entendimento em vários princípios
científicos relevantes também, sem ao menos me dar conta do que eu estava
fazendo. Comecei a embarcar em um campo de treinamento mental que transformaria
a maneira como eu percebo e entendo o mundo.
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