Desconversão
3.5 – Objeções ao Evidencialismo
Quando eu criei meu primeiro vídeo
sobre evidência, eu estava operando na inferência de que quase todos os meus
espectadores teriam experimentado a evidência e estariam consciente de suas
diárias e acadêmicas que já suportariam os argumentos que eu estava fazendo.
Então eu inferi que os argumentos que eu estava fazendo não seriam
controversos.
Mas com as críticas que eu recebi
na seção de comentários e vídeos respostas, de qualquer forma eu estava errado
de inferir isso. Então antes de irmos para a próxima parte eu gostaria de
responder algumas dessas críticas e vou voltar a alguns argumentos que eu fiz
no primeiro vídeo.
Não que isso seja uma coisa ruim.
Responder a esses críticos reforça os argumentos feitos a favor dos fundamentos
do evidencialismo.
Para começar a minha jornada
epistemológica, eu fiz duas suposições temporárias.
1.
Eu Existo;
2.
Meus sentidos às vezes estão corretos;
Essas suposições temporárias podem
estar erradas! Elas são só hipóteses. Mas se eu não as assumir, eu não tenho para onde ir
epistemologicamente. Eu não teria nenhum poder para inferir o mundo a minha
volta.
Apesar disso, algumas pessoas
imediatamente pularam para esse ponto e disseram:
‘Você não pode assumir isso!’
O que foi uma resposta que no
inicio, me deixou um pouco perplexo e pensei comigo mesmo:
O que essas pessoas estão tentando
fazer¿ Eles estão argumentando que elas não assumem sua própria existência? Eles estão argumentando que elas assumem que os seus sentidos nunca são
corretos?
Qualquer um que tome essa posição
está se comprometendo com o Ceticismo Radical. Que é a posição filosófica de
que o conhecimento é impossível. E este posicionamento não nos leva a lugar
algum.
Se essa é nossa posição, então
epistemologicamente é Fim de Jogo. Não há nada a pensar e nada a fazer. Já que
não podemos acreditar em nada!
Ou você faz essas suposições
temporárias comigo ou você escolhe não acreditar em nada!
Eu não vejo alternativas! Isso me
parece ser uma verdadeira dicotomia. Mas existe uma preocupação mais razoável
sobre essas suposições básicas. Algumas pessoas argumentam que se eu faço essas
suposições básicas, eu posso assumir o que eu bem entender, mas isso também não
é verdade.
Se eu assumir o que eu bem
entendesse, eu assumiria que:
1.
Eu existo;
2.
Meus sentidos algumas vezes estão certos;
3.
Assumo que o mundo natural é tudo que existe;
4.
Assumiria que não há nenhum Deus;
5.
Assumiria que a abiogênese não originou de uma
inteligência;
6.
Assumiria que não houve Design Inteligente na
diversidade genética;
7.
Assumiria que todas as religiões são ilusões;
E assim por diante.
E alternativamente eu poderia
supor que :
1.
Eu existo;
2.
Meus sentidos estão algumas vezes certos;
3.
Assumiria que existe o sobrenatural;
4.
Assumiria que existe Deus;
5.
Assumiria que este Deus criou toda a vida;
6.
Assumiria que existiria uma vida após a morte,
depois que eu morresse;
7.
Assumiria que Deus está guiando minha vida;
E assim por diante. Mas não estou
dando esses grandes salto de pressuposições. Muito pelo contrario. Eu estou
assumindo o mínimo possível, apenas para funcionar no mundo e então deixando a
evidência me dizer o resto.
Outra crítica é que Eu faço
suposições. Racionalistas como Descartes não fazem suposições. Racionalistas só estão observando ‘verdades a
priori’.
Para qual minha resposta é:
Como você pode saber A PRIORI que
alguma coisa é VERDADE?
Ao qual a resposta comum é: você
pode saber que um conjunto de afirmações é verdadeira se elas são internamente
consistentes.
Bom em primeiro lugar, essa frase
é uma SUPOSIÇÃO! Mas vamos mantes esse principio para vermos se ele se mantém.
Esse tipo de epistemologia é
chamado de Coerencialismo. O que quer dizer que as crenças são verdadeiras se
elas são membros de um conjunto internamente coerente de crenças que se
suportam e não contradizem uns aos outros. As crenças são internamente
consistentes.
Mas o Coerencialismo tem problemas
que podem ser atacados logo de inicio. Pegue 3 religiões diferentes: Islamismo,
Cristianismo e Hinduísmo.
Todas essas três religiões podem
ser formuladas de uma maneira que elas sejam INTERNAMENTE CONSISTENTES. Mas
claramente elas contradizem umas as outras, portanto elas não podem ser todas
verdadeiras. Portanto, consistência interna dentro de um conjunto de crenças
não é suficiente para a verdade.
Isso é chamado de Objeção ao
Isolamento do Coerencialismo. O que quer dizer que um conjunto de crenças pode
ser internamente consistente isoladamente sem que sejam de fato verdadeiras e
ao menos duas se não todas as religiões tem que ser falsas!
Agora, muito embora consistência
interna não seja suficiente para uma epistemologia, ela parece ser uma condição
necessária. E o argumento do evidencialismo é que ela é coerente, porque o
universo físico em si é coerente. Isto não é uma suposição. Isto é um argumento
baseado em evidência. Ele pode ser construído através de um subconjunto de
argumentos baseados em evidências. Como
o fato de que múltiplos termômetros de diferentes fabricantes vão informar a mesma
temperatura na mesma região geográfica na mesma hora dentro de uma certa faixa
de erro.
Então a alegação de consistência
interna não salva os racionalistas de que eles ao menos estão supondo alguma
coisa, assim como eu. Não importa o quanto você tente escapar disso, rotulando
eufemisticamente sua suposição de auto evidente ou como verdade a priori, a
verdade é que você está supondo algo.
E é mais perigoso
inconscientemente assumir algo mas confiantemente rotulá-la como verdade do que
conscientemente fazer uma suposição e humildemente estar preparado para
descobrir que ela não era uma verdade.
Outra objeção comum ao
evidencialismo é que ela é uma proposição auto refutável, o que quer dizer que
somente crenças justificadas por evidências são válidas. Essa alegação por si
só não é suportada por evidência. Em meu vídeo anterior a essa suposta
refutação foi que toda crença EXCETO essas cinco suposições temporárias ou
hipóteses precisam ser justificadas por evidência.
O que é uma boa resposta. Porque
nem mesmo as duas primeira hipóteses estão livres disso. Por exemplo, se você
diz ‘Penso logo, EU existo’, a sentença em si assume a existência de um EU que
pode pensar. E se você diz ‘Meus sentidos as vezes são corretos’, como você vai
provar isso? Com os seus sentidos?
Uma vez mais, essas cinco primeiras
podem ser tomadas como hipóteses temporárias que estão abertas a futuras
refutações ou revisões, mas eu posso fazer melhor que isso.
Eu vou abordar de outra forma que
me permita afastar qualquer outra objeção de que o evidencialismo é auto
refutável.
A maioria dos racionalistas, até
mesmo Descartes, acreditavam que evidências físicas são uma maneira válida de
justificar as crenças. Amos descartar as 5 outros conjuntos de hipóteses que
mencionam antes. E vamos tomar uma terceira suposição que todos compartilhamos:
3.
Evidências física é uma evidência válida para
justificar uma crença.
Usando essa suposição
compartilhada, a tese do evidencialismo é que TODAS as crenças são
justificáveis através de evidências físicas.
Está não é mais uma simples
suposição. Estamos fazendo um upgrade desse argumento para um argumento
completamente baseado em evidências. E como acabei de dizer isso está bem,
porque até mesmo racionalistas concordam com a evidência física é uma forma válida
de justificação.
Então qual a evidência para este
argumento?
Bom, ele contém vários
subargumentos e minha série serve como uma das muitas formas que apresentam
argumentos para suportá-la. E eu vou apresentar ainda mais evidências para essa
tese. Agora!
Uma da críticas a essa tese do
evidencialismo por muitos ateus é que algumas crenças são verdadeiras mas não
baseadas em evidência física. Um dos exemplos mais comuns é a matemática.
Matemática, eles afirmam, é uma
atividade puramente racional, ela não tem base em evidência. Matemática é
baseada em provas e provas são puramente racionais. Vamos examinar essa
alegação.
A base geralmente aceita para a
matemática é a Teoria dos Conjuntos. Por exemplo, a Teoria dos Conjuntos de
Zermelo-Fraenkel. A teoria dos Conjuntos discute conjuntos, que são bem
definidos por coleções de objetos. Mas de onde vem a ideia de conjuntos em si?
Eu penso que a evidência indica
que a ideia de conjuntos vem claramente do universo físico. Sem o universo
físico contendo coleções de objetos físicos discretos, como pássaros juntos,
navios em um porto, e etc, como nós abstrairíamos a ideia de conjuntos?
Imagine que vivêssemos em um
universo sem objetos discretos. Onde todas as coisas se fundem e se misturam
umas as outras. Como nos abstrairíamos a ideia de conjuntos em tal universo?
Ou imagine que nossos cérebros
fossem inicializados com um espaço em branco vazio. Como nos abstrairíamos a
ideia de conjuntos se não há nada para coletar?
De conjuntos podemos abstrair a
ideia de números, que são rótulos de tamanhos de conjuntos específicos, de
números nós podemos abstrair a ideia de Adição (3 +2 = 5 ) que é a combinação
de SubConjuntos. Subtração (5-2 = 3) que é a remoção de subconjuntos,
Multiplicação e Divisão.
Abstrações de abstrações de abstrações,
é isso que a matemática é. E as abstrações da matemática só são possíveis
porque vivemos em um universo de objetos físicos discretos que podem ser
agrupados em conjuntos.
Sem estes objetos não teríamos
base para abstrair nada. Com o tempo nós tivemos que formalizar nossas
abstrações baseado em outras abstrações porque os paradoxos que descobrimos
inseriam outras abstrações. Isso nos levou a periodicamente revisitar os nossos
fundamentos matemáticos e os modificar. Mas a ideia é bem clara de que no fundo
toda a matemática, deriva da abstração em última análise de evidência física.
E isso tem se provado muito
frutífero para nós como espécie porque nosso isomorfismos entre nossas
abstrações e o universo físico nos permitem a voltar ao universo físico, e nos
permitem aplicar as nossas abstrações em aplicações de engenharia.
Mas e a lógica?
A lógica não é baseada em
evidência, é¿ e matemática é baseada na lógica. Muito pelo contrário. Eu acho
que é demonstrável que a lógica é uma abstração da experiência física, baseada
em evidência física.
Vamos pegar o Modus Ponens, por
exemplo. Se A, então B. A portanto, B. Isso é tão abstrato!
Como é possível que isso seja
baseado em experiência física?
A resposta a evidência da acusação
física. Se chove, então fico molhado. Se eu toco o fogo, eu me queimo. Se eu
derrubo esse copo, eu vou quebra-lo. Se A, então B.
Um pouco de reflexão revela o quão
presente em toda parte esse conceito faz parte de experiência física.
Essa é uma forte evidência que o
conceito de Modus Ponens é só uma abstração da evidência física. Acho que a
ironia extrema dessa situação é que nós experimentamos tanta evidência para
essas abstrações que nós não precisamos mais de evidência para nos lembrarmos
como aplica-las em nosso dia a dia. Sabemos contar, sem nos basearmos ou
lembrarmos de uma evidência para isso. Então, nos vemos
na ilusão de que elas são auto evidentes, mas se você alguma vez
precisar se lembrar de que essas afirmações não são auto-evidentes. Vá até uma
classe de jardim da infância e comece a falar de verdades auto evidentes e
esperar que as crianças se lembrem e as entendam.
Você provavelmente vai ser
lembrado rapidamente que essas não são verdades auto evidentes. Elas são
abstrações baseadas em evidência física. E se você quiser falar com pessoas que
ainda não experimentaram a evidência física, para que compreendam, aprendam e
acreditem nela, você tem que apresentar a evidência para elas.
Esse entendimento das abstrações,
vem do fato que temos uma mente ‘corpórea’, uma mente que existe em um corpo.
Uma dos mais destacados proponentes do argumento da Mente Corpórea, é Gorge
Lakoff, um linguista cognitivo. Ele e Rafael Núñes apresentam um argumento
semelhante ao meu, no livro ‘Where Mathematics Comes From’ (De onde Vem a
Matemática). Como a mente corpórea faz a matemática existir.
É tido pelos defensores da
matemática corpórea que ela não existe em nenhum senso real além do cérebro
humano. Ao invés isso, nós construímos matemática e lógica, abstraindo-as das
experiências corpóreas que nós temos. Em outras palavras, do mundo físico que
nós experimentamos.
Eu acho que este argumento tem
profundas implicações para o ensino de disciplinas abstratas como
matemática. Porque os professores com a
abordagem racionalista provavelmente vão focar em memorizar abstrações de
verdades matemáticas, como se elas fossem auto evidentes.
Os professores com uma abordagem evidencialistas,
vão focar em proporcionar exemplos que justificam as abstrações. Os
evidencialistas virão apresentar ambas, tanto a abstração e a evidência em que
ela é baseada. Os racionalistas irão apenas apresentar as abstrações, deixando
de lado a metade do argumento, em minha experiência, confundindo os estudantes
e ofuscando o processo de aprendizagem.
Outra abordagem falha é apresentar
os exemplos sem a abstração. Uma grande parte do meu desgosto pelos
racionalistas é justamente por ter sido submetido a abordagens de ensino
racionalistas, como aluno em um curso de grande conteúdo matemático. E também
por ser um professor nesse curso e testemunhar outros professores confundindo
seus alunos com abordagens racionalistas e depois reclamar porque os seus
estudantes não entendem.
Baseado no que eu vi sobre
psicologia cognitiva, o processo de aprendizado é extremamente baseado em evidência.
Enquanto bons professores explicam a abstração e explicam a evidência para
suportá-la ou apresentem a evidência e explicam a abstração que se pode tirar
disso. Isto está relacionado com a formação de memória semântica e episódica.
Que irei explicar mais tarde.
Eu suspeito que o evidencialismo
vai vencer este argumento porque é a base real do aprendizado humano e o
racionalismo não é. E portanto, o racionalismo ao tentar defender a si próprio
como epistemologia, vai acabar com um público mais confuso e desorientado do
que o público do evidencialismo.
Eu acho que o racionalismo é uma
certa forma de preguiça sobre as abstrações. Deixando o trabalho de
justificação meio pronto e simplesmente rotulando certas abstrações de verdades
a priori ou auto evidentes. Enquanto evidencialistas vão tentar gastar o tempo
para tentar investigar ou ao menos saber de onde vem todas as nossas abstrações
ou ao menos ter a humildade de admitir quando o trabalho de justificação ainda
não está terminado.
Mas isso é o bastante na crítica
do racionalismo por enquanto. Vamos agora falar do que o evidencialismo não é.
Uma reclamação final de várias
pessoas é que ‘isso é só ‘positivismo lógico’. Em primeiro lugar, não, não é.
Evidencialismo é uma posição
própria com seus próprios trabalhos científicos publicados , com seus próprios
princípios e seus próprios argumentos.
Segundo, isso não é um argumento.
Se você acredita que há algo de errado tanto com o evidencialismo ou o
positivismo lógico. É sua responsabilidade de ao menos criar um breve argumento
para explicar qual é o problema.
Um mero apelo a convenção não é
suficiente. Com essas críticas endereçadas, eu acho que essa é uma quantidade
suficiente de defesa ao evidencialismo para me justificar a seguir em frente.
Se você quiser falar de alguma epistemologia que você acha que melhor explica a
justificação, você está livre a fazê-lo. Sinta-se a vontade para colocar um vídeo
resposta.
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