O Paradoxo de Zênon
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Zênon de Eléia (século V a.C.) especializou-se em
paradoxos. Aliás, paradoxo era sua filosofia. Assim, embora não exista um
"Paradoxo de Zênon", o mais famoso de todos, um paradoxo de
movimento, recebeu esse nome.
Zênon afirmava que, para ir de um ponto a outro, primeiro
você tem de percorrer metade do caminho. Para percorrer a outra metade do
caminho, primeiro você deve percorrer metade da distância restante, ou seja,
mais um quarto do caminho. Para percorrer o resto do caminho, você deve
percorrer metade da distância restante, ou seja mais um oitavo do caminho. E
assim por diante, ad infinitum. Em outras palavras, por mais que você
esteja perto do segundo ponto, você ainda tem que vencer metade da distância
que falta e você ficará nessa situação, sempre. Portanto, concluía Zênon
triunfantemente, o movimento é impossível, já que nunca se pode chegar aonde
se está indo, mesmo que seja um palmo adiante.
Outra versão do paradoxo, talvez mais familiar, é a da
corrida entre Aquiles e uma tartaruga, de resultado parecido com a corrida da
lebre e da tartaruga de Esopo, mas com uma moral diferente. Se Aquiles, num
arroubo de generosidade, der à tartaruga uma vantagem inicial, ele jamais
poderá vencer.
Vamos supor que Aquiles comece a correr a 1h. Para superar
o atraso, primeiro ele deve chegar ao ponto onde a tartaruga já estava a 1h,
e isso pode custar, digamos, dez minutos. Mas nesses dez minutos, a
tartaruga, obviamente, continuou andando, de modo que Aquiles, para
alcançá-la, terá agora de chegar ao ponto onde a tartaruga estava a 1h10.
Isso vai levar algum tempo, talvez cinco minutos. Mas nesses cinco minutos, a
tartaruga continuou se arrastando na direção da linha de chegada, e agora
Aquiles deve correr para onde a tartaruga estava a 1h15. E assim por diante.
Portanto, concluía Zênon triunfantemente, o senso comum – que leva a prever a
vitória de Aquiles – é contrariado pelas leis do movimento, e, portanto,
nossas idéias de movimento estão erradas.
Mas você pode ter certeza de que Zênon viajou de um lugar
para outro e que usou movimento para fazer isso. É possível até que tenha
ultrapassado algumas tartarugas da época. Zênon simplesmente não acreditava
que o entendimento comum da realidade fosse coerente, já que, como tentou
demonstrar, o senso comum e as leis do movimento não poderiam ser
simultaneamente verdadeiros. (O erro de Zênon foi que ele não percebeu que
estava dividindo infinito por infinito, mas não precisamos entrar em
detalhes, aqui.) O que Zênon estava realmente tentando provar era a doutrina
de seu mentor Parmênides, cujas noções de ser e não ser eram bastante
abstratas. Segundo Parmênides, de fato, a realidade era irreal.
Os filósofos gregos da época de Parmênides não puderam
efetivamente apontar falhas em seus argumentos; o primeiro a fazer isso foi Platão,
que atacou as doutrinas de Parmênides em uma série de diálogos (Parmênides,
Teeteto e Sofista). Mas Platão não foi completamente vitorioso, já que
Aristóteles ainda achou necessário contestar e refutar os argumentos de
Parmênides e Zênon, coisa que fez ao examinar as causas do movimento — tema
de sua obra Movimento Primordial.
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terça-feira, 8 de outubro de 2013
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