O que são sentimentos?
As emoções são predominantemente
inconscientes ou seja, elas ocorrem abaixo da linha de nossa percepção. E aí
talvez você ache estranho, talvez olhe pra mim e diz “tudo bem, entendi que as
emoções não podem ser controladas por serem automáticas, mas quando tem um
tubarão ou leão na minha frente estou plenamente consciente de que estou com
medo”, mas a verdade é que a partir do momento em que tomou consciência da sua
emoção então passou para um outro processo do seu cérebro que chamamos de
“sentimento”.
O sentimento é a percepção consciente e parcial de emoções. Essa percepção é sempre
parcial, afinal de contas quando você está com medo você não tem consciência de
que o diâmetro de suas pupilas está variando por conta de um aspecto dessa
programação emocional. Você só percebe partes dessas alterações.
Por que então fazer uma
distinção entre emoção e sentimento?
A primeira razão é neuroanatômica e
neurofisiológica. As estruturas e circuitarias cerebrais que são responsáveis
por mediar as emoções não são as mesmas que são responsáveis por mediar os sentimentos.
Estamos falando de circuitos cerebrais diferentes pra cada uma dessas funções.
A segunda razão é porque nem sempre uma emoção se torna consciente. É
perfeitamente possível que ocorram alterações emocionais no seu corpo e você
não tome consciência disso e elas portanto não se tornem o que chamamos de
sentimento.
Posso dar um bom exemplo disso. Toda
vez que você vê a sua mãe ocorre uma reação emocional no seu corpo. Isso faz
por exemplo que haja uma variação na dilatação de suas pupilas. Além disso você
transpira na palma da sua mão de forma imperceptível pra você mas nós no
laboratório conseguimos com aparelhos medir isso e você não percebe nada disso.
Portanto tratasse de um processo que ocorre largamente inconsciente. Se você
por exemplo ver a foto de uma pessoa que você já amou, de um ex namorado ou ex
namorada que te machucou no passado, queira você ou não, irá provocar em você
uma reação emocional. Mesmo que não perceba suas reações passam a ser mais
agressivo, ficar novamente com raiva, e quem sabe sentir ou lembrar da dor que
foi perder a pessoa que amou ou que te prejudicou. Seu comportamento será
alterado pois emoções servem para gerar comportamentos. Aí então depois de
passar o dia inteiro estranho, no seu canto, alguém chega pra você e fala “você
está bem? O que está acontecendo?”, só então você percebe que ver aquela foto
fez com que você alterasse seu comportamento de forma a ser percebida por
outras pessoas. O que você sente querendo ou não, pode atrapalhar suas relações
e por essa razão, em minha opinião devemos estar mais conscientes do que
estamos sentindo. Mesmo que você não queira, nunca conseguirá esquecer o que
aconteceu a pessoa que amou ou que te decepcionou em outras palavras, muitas
pessoas dizem que podemos esquecer algo que marcou nossa vida, mas a verdade é
que não podemos esquecer. O que posso dizer é que com o passar do tempo o que
sentiu não será mais o mesmo. Em muitos casos não é possível esquecer um grande
amor com outro amor.
Esse foi um bom exemplo de uma emoção
que permaneceu inconsciente praticamente o dia todo e depois somente o
sentimento veio ou seja, primeiro a emoção inconsciente e depois o sentimento
consciente. Aliás é perfeitamente possível que uma emoção não se torne um
sentimento ou seja, a emoção permaneça oculta da nossa consciência, que ela
permaneça em um nível abaixo da nossa percepção.
Entenda então que a emoção é essa
coisa mais rudimentar, automática, fisiológica, o que não significa que a
emoção é simples e nem que é medíocre, é uma gigantesca orquestra fisiológica,
extremamente complexa e que dificilmente alguém com uma mentalidade simples
consegue entender. Agora, o sentimento é mais psicologicamente complexo pois é
consciente, então irá envolver por exemplo suas memórias. Quando você tem o sentimento
de amor isso irá envolver as memórias dos amores passados, vai envolver as
poesias e os filmes que você já viu. O sentimento vai envolver as ideias e
planejamentos que tem para o futuro. Quando você está com medo por exemplo de
que algo ruim aconteça na sua vida profissional você certamente está envolvendo
nisso os seus planos pra que você no futuro tenha dedo grandes passos em sua
carreira profissional.
Além disso o sentimento vai envolver
a percepção que tem de si próprio, sua identidade e personalidade. O que você
sente influência toda sua vida, principalmente no que acredita ou deixa de
acreditar. O que acreditamos não tem nada de sobrenatural ou especial. São
processos naturais e mesmo que passemos a negar essa verdade, a verdade
continuará ali.
As emoções e sentimentos então
compõem o que chamamos de “O sistema afetivo” que é composto pelos mecanismos
neurais das emoções e sentimentos (afetos). Alguém pode pensar que olhar para
as emoções e sentimentos dessa maneira ou seja, a partir do funcionamento do
cérebro, é uma coisa que “tira a beleza” e a magia da vida afetiva. Discordo
fortemente dessas pessoas. Existe uma enorme beleza em compreender essa
orquestra fisiológica que acontece no seu cérebro que modifica, melhora ou até
piora sua vida. É incrível e muito bela o que acontece dentro de seu cérebro
toda vez que você sente amor, medo, ou qualquer outro sentimento.
Compreendendo os seus próprios
sentimentos e emoções você consegue gerenciar
melhor suas relações profissionais, suas relações afetivas, suas amizades e
portanto a sua vida como um todo.
Os sentimentos podem
durar por três fases:
Ø Sentimentos de Curto prazo, são
aqueles sentimento de que temos porém que pode ser perdido no outro dia, uma
semana depois, ou meses depois. Geralmente o sentimento não é intenso pois se
fosse intenso não seria possível tê-lo apenas no curto prazo.
Ø Sentimentos de Médio prazo, são os
sentimentos que podem durar em média de 4 a 5 anos. Geralmente quando estamos
namorando estamos mantendo aquele forte sentimento inicial e que aos poucos irá
diminuindo.
Justamente quando a paixão não é tão
forte e intensa quanto antes, então a pessoa pensa seriamente em terminar a
relação. Quando damos muito valor ao que sentimos nos esquecemos que uma
relação é um conjunto de coisas e que o que sentimos é apenas uma parte desse
conjunto.
Ø Sentimentos de Longo prazo são
aqueles sentimentos que são preservados porém não é tão forte quando o
sentimento provido pela paixão. Querendo ou não o amor é diferente da paixão.
Quando amamos alguém queremos cuidar
do que temos, fazemos a relação dar certo e acima de tudo passamos a
compreender o que é uma relação e tudo que a envolve – ao menos é isso que
deveríamos fazer.
Tem uma frase que diz assim “se
alguém procura satisfazer aquilo que sente, então irá sair de um relacionamento
e entrar em outro por ser incapaz de entender que em uma relação o sentimento é
apenas uma das partes importantes que mantêm o relacionamento”. Se relacionar
com alguém é uma das coisas mais difíceis que o ser humano pode fazer. É
complexo e muitas pessoas não fazem ideia de como ter bons relacionamentos.
Os sentimentos podem
ser avaliados pela intensidade
Sentimento muito intenso é quando
podemos chegar ao ponto de ficarmos doentes ou precisar de alguma coisa
desesperadamente de forma a nos fazer ficar extremamente tristes e angustiados
por não ter aquilo que queremos, podendo assim entrar em depressão.
O sentimento quando muito intenso nos
obriga a dar menos valor ao que é certo de se fazer e assim, tudo que queremos
fazer é satisfazer o que estamos sentindo. Um ótimo exemplo é quando estamos
apaixonados. A paixão nos obriga a ver o objeto de desejo como único e de uma
forma que nos leva a pensar que sem esse objeto não conseguiremos viver. A
paixão é loucura e para cada pessoa a paixão pode ser diferente. Em algumas
pode ser aquela loucura que a pessoa perde o controle sobre si mesma e fica
totalmente dependente da outra, enquanto para outras pessoas a paixão não as
obriga a serem dependentes de outra pessoa. Por essa razão mesmo que você saiba
o que é estar loucamente apaixonado não significa que outra pessoa passará ou
sentira a mesma paixão que você.
Além disso a paixão pode ser
intensificada pelo que chamo de processo de “tensão e alivio”, em outras
palavras essas oscilações ou montanha russa de carga emocional, onde uma hora
tudo está bem e em outra tudo está um inferno, acaba intensificando a paixão. Por
essa razão alguns casais brigam o tempo todo mas algumas horas depois estão
juntos novamente.
Uma vez que entendemos a intensidade
do que estamos sentindo podemos tomar melhores decisões de forma e evitar
prejudicar nossa vida e a vida das pessoas ao nosso redor.
Sentimento mais forte
por outra pessoa do que pela pessoa amada
Aqui temos uma grande diferença entre
algo que estamos acostumados e não nos sentimos fortemente atraídos e do outro
lado temos essa outra pessoa que é extremamente atraente para nós. Esse
conflito de sentimentos é muito comum e é uma das principais razões que leva
diversas pessoas a traírem seus companheiros. Em muitos casos aquele que traí
percebe que está cometendo um erro e que estará perdendo o que realmente quer,
que é a pessoa com quem se envolveu e que criou uma família. Por outro lado o
sentimento pode ajudar a ignorar ou superar esse limite, o que naturalmente
fará a pessoa não querer mais ficar no antigo relacionamento e iniciar um novo
relacionamento com o amante.
Muitas vezes quando amamos muito
alguém e perdemos essa pessoa é comum que se nos envolvermos com outra pessoa,
não conseguiremos amar a pessoa atual como amamos nossa(o) ex. Em alguns casos
o que sentimos por alguém foi tão forte que não conseguimos nos relacionar com
outra pessoa e em muitos casos a pessoa passa a viver sozinha pelo resto da
vida. Não podemos controlar o que sentimos e devemos compreender que muitas
vezes não é possível substituir o que sentimos por alguém. Não podemos descontar na pessoa atual nossa
frustração por não conseguirmos sentir por ela o mesmo que sentimos por outra
pessoa. Sendo assim, podemos concluir que para manter uma relação temos que
compreender que a relação vai muito além do sentimento.
Sentimento e o término
da relação
No começo do término o sentimento é
intenso e te faz procurar a pessoa que ama. É comum que tente entrar fazendo
declarações de amor, matando a saudade ou fazer ameaças de morte. O
interessante da intensidade do sentimento é que assim como o sentimento faz
alguém amar loucamente alguém, da mesma forma pode fazer alguém odiar alguém com
a mesma ou até com uma intensidade maior do que aquela do sentimento do amor. É
possível que a pessoa diga que irá te matar e no outro dia ou hora passe a
dizer que ama. A dor da pessoa é tão grande por perder alguém que pode leva-la
a fazer ameaças de morte ou até mesmo a tirar a própria vida. Eu não brinco com
sentimentos pois sei que os sentimentos podem nos trazer o paraíso mas se nos
descuidarmos passaremos por um inferno.
O sentimento ao mesmo tempo que é
muito bom para nós é extremamente perigoso.
Algumas pessoas tem o poder de
prejudicar a vida de diversas pessoas pois tem dificuldades em lidar com o que
sente e em muitos casos prefere seguir o que sente pois se não seguir não se
sentirá feliz. Esse é um mal e ao mesmo tempo um perigo pois até mesmo a
felicidade tem suas limitações e pode ser extremamente prejudicial. Seguir o
que sentimos como forma de “sermos felizes” não traz de fato a “real
felicidade” ou seja, o que sentimos não tem a intenção de melhorar nossa vida
tem a intenção de nos ajudar a sobreviver.
Se o que sentimos serve para nos
ajudar a sobreviver então o que acreditamos tem o mesmo propósito, ou seja, nos
ajudar a sobreviver. Porém, nem sempre é assim, pois o que sentimos pode
distorcer a realidade e assim podemos até mesmo perder a vida defendendo aquilo
que acreditamos. O que sentimos pode distorcer a realidade e por essa razão
temos que nos focar em trabalhar nossa inteligência emocional, ou seja,
melhorando racionalmente e adquirindo conhecimento para lidar com diferentes situações
e cenários da melhor maneira possível. Sendo assim, é preciso encontrar um
equilíbrio saudável entre o racional e emocional.
Conclusão
Essa perspectiva que eu trouxe pra
vocês é adotada por uma série de neurocientistas. Nem todos vão concordar, porém
essa é a beleza da ciência, pois a ciência sempre está procurando a resposta
correta e por essa razão a dúvida e a discórdia é bem-vinda. Um dos maiores
defensores do que leu é Antônio Damásio que é um dos maiores especialistas do
mundo sobre a neurobiologia das emoções.
Recomendo dois livros dele, um clássico de 1994 chamado “O
erro de Descartes” e o mais recente “O cérebro criou o homem”. Se ainda desejar
mais informações recomendo que o capítulo sobre neurobiologia das emoções de um
livro chamado “Princípios de Neurociências”, aliás um dos co-autores desse
capítulo é o próprio Antônio Damásio.
Muitas questões ficaram no ar e as
emoções e sentimentos específicos? O que acontece no seu cérebro quando você
ama ou quando está apaixonada? Por que nosso cérebro é muito mais antenado nas
coisas negativas do que nas positivas?
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