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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Será possível manipular as pessoas a vontade? (Só para leitores muito inteligentes)

Será possível manipular as pessoas a vontade? (Só para leitores muito inteligentes)




       Não precisamos construir uma elaborada teoria conspiranoica para ver a maneira com que as pessoas manipulam cotidianamente umas as outras. As pessoas se tornam facilmente manipuláveis quando encontram algo que lhes interesse como comprovou um experimento elaborado em 1980 pelo psicólogo Steve Sherman e divulgado por David McRaney em seu ótimo livro "Você não é tão inteligente: Por que você tem muitos amigos no Facebook, porque a sua memória é pura ficção e 46 outras maneiras que você está se iludindo".

          Na experiência, Sherman ligou para alguns números a esmo e pediu para as pessoas assistirem um evento sobre voluntariado em uma arrecadação de fundos para uma associação de pesquisa contra o câncer. Devido a que, para nossa autoimagem, a luta contra o câncer é algo bom e nobre, com o qual todos gostaríamos de ser associados, muitas pessoas disseram que iriam ao evento, mas apenas 4% daqueles que confirmaram assistiram em realidade.

        Em uma seguinte rodada de chamadas, Sherman primeiramente perguntou para as pessoas se acreditavam ser o tipo de pessoa que doaria seu tempo em ajuda de outrém se assim pudesse fazê-lo e só então convidou-os a assistir o evento. Quase todos os que responderam positivamente assistiram depois ao evento.

        Entenderam a artimanha? O "pulo do gato" ou o hack comportamental aqui consiste em conseguir que uma pessoa convença a si própria de que é certo tipo de pessoa e que agirá em consequência disso. Em verdadeiro sentido, inclusive seria possível dizer que a manipulação é possível não porque o manipulador diz para as pessoas o que fazer, senão porque é capaz de convencê-las de que são elas que querem fazer essas coisas. A gente não pode ser manipulado a não ser que queiramos ser manipulados.

Isto já foi motivo de vários mal-entendidos históricos. Só para citar um exemplo polêmico, pensemos que os crimes e horrores do nazismo na Segunda Guerra Mundial estavam dirigidos não só a instaurar uma forma particular de sociedade industrial, senão a fazer com que os alemães acreditassem que dito mundo era possível. Foi o mesmo caso com a China. Os ditadores confundem propaganda com história, persuadindo eventualmente as pessoas que fazem parte de uma "raça" superior ou que foi eleita por deus. Se as pessoas assumem tais diretivas, em estrito sentido não estão sendo manipuladas, senão seguindo a imagem de si mesmas que recebem do governo, da mídia ou de outras pessoas, com desastrosas consequências.

O fenômeno descrito como o responsável por estes comportamentos é conhecido por "efeito Pigmaleão" (também chamada efeito Rosenthal), que consiste em que, quanto mais altas sejam as nossas expectativas, melhor será nosso desempenho. Pigmaleão foi um famoso escultor da antiguidade grega que, em algumas versões da lenda, apaixonou-se por sua própria estátua, uma reprodução de Afrodite, motivo pelo qual a deusa, comovida, deu vida à obra para que o escultor pudesse desfrutar dela.

Isto nos demonstra que efetivamente existem diversas maneiras de manipular as pessoas, mas que pela mesma via é possível gerar uma mudança social positiva convencendo-as das vantagens e oportunidades que têm; no entanto, no exemplo do livro, as pessoas estavam dispostas a prestar seu trabalho voluntário não pela importância intrínseca da luta contra o câncer, senão porque queriam mostrar que são pessoas consideradas e conscientes que ajudam os demais. Se ao crê-lo ajudam os demais, por que não?

Se é possível fazer com que alguém creia algo sobre si mesmo, com toda segurança é possível que essa pessoa compre os produtos que reforçam essas mesmas ideias de si mesma, é possível fazer com que aja ou faça coisas que do mesmo modo reforçam o que já sabem, inclusive indo de encontro aos valores "humanos" mais elementares, como a vida ou a honestidade.

Nas micro-políticas de convivência do dia a dia tomamos muitas decisões sem dar-nos conta; se a gente tivesse tempo de pensar e escolher, provavelmente tomaríamos decisões que poderiam não ser congruentes com nossas futuras ações (como no primeiro experimento); mas se há que dizer ou fazer algo de forma imediata, isto é, agir rapidamente, é muito provável que aqueles que fazem as perguntas, vendem um produto, escrevem um post, tenham mais controle da situação, inclusive sugerindo a resposta que as pessoas devem dar na própria elaboração da pergunta, o que dá a impressão de que deu uma resposta "correta" e que nosso interlocutor a aprova (segundo experimento), motivo pelo qual agimos em consequência com ela para não decepcionar a imagem que temos de nós mesmos.

Uma forma de controle muito usada neste caso é o estímulo precedente (priming) que consiste em expor a pessoa a estímulos que buscam condicionar sua resposta. Quer ver um exemplo muito simples? Responda (ai, agora) bem rápido e em voz alta as seguintes 5 perguntas:

Qual a cor da neve? Qual a cor das nuvens? Qual a cor do sorvete de coco? Qual a cor dos ursos polares? O que as vacas bebem?

A maioria esmagadora das pessoas que responderam de forma imediata vão dizer que a vaca bebe leite. Pode até beber, mas não é a sua preferência. Este é um exemplo clássico da predisposição que temos de fazer associações mentais imediatas, às vezes equivocadas, com a primeira coisa que nos ocorre, neste caso a cor branca com o leite da vaca.

Conquanto hoje em dia a publicidade, a mídia e o próprio Estado usem técnicas de engenharia da conduta para manipular seu público e que uma simples sugestão de inteligência (como no título do post) faça o leitor se sentir mais sábio e chegar até a esse ponto da leitura, a lição, no geral, é que uma pessoa não pode ser manipulada para bem ou para mal a não ser que voluntariamente decida manipular a si mesma.

Leia mais em: Será possível manipular as pessoas a vontade? (Só para leitores muito inteligentes) - Metamorfose Digital http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=28573#ixzz2liYpXcaa
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Item Reviewed: Será possível manipular as pessoas a vontade? (Só para leitores muito inteligentes) Rating: 5 Reviewed By: Gabriel Orcioli