Desamparo psíquico é o termo usado para a compreensão de sentimentos relacionados a angústia, ausência e vazio que originam-se a partir das sensações primárias ( infantis) de abandono e privação das necessidades emocionais. É a ausência da internalização de apego seguro, vínculos afetivos e protetores, representados pelas figuras primárias ( pais / cuidadores ), responsáveis pela função de contenção, proteção, amparo, validação e compreensão. Estas ausências formam os espaços vazios caracterizados pelo não ter e não existir. Não há o olhar do outro para o devido reconhecimento de si e o afeto necessário capaz de preencher e validar as necessidades mentais e emocionais.
O sentimento de desvalimento e desamparo, implica na formação de uma estrutura psíquica falha, frágil e vulnerável, sujeita a processos de anestesia emocional que também pode ser caracterizada pela depressão sem tristeza, uma vez que não há perdas ou separações e sim a ausência de algo que nunca foi vivenciado, obtido e construído para ser perdido ou separado. A estrutura psíquica forma-se a partir dos espaços não preenchidos, ou seja, vazios. Não há representações afetivas , sentimentos nomeados, experiências gratificantes ou frustrações que auxiliam o psiquismo na integração de objetos bons e maus e no fortalecimento de defesas psíquicas perante as ameaças. A construção psíquica consolidada a partir de uma base frágil e vulnerável, não permite o desenvolvimento de recursos, tais como capacidade de conter, tolerar e superar as diferentes crises do ciclo vital.
Os vazios são preenchidos através de afetos positivos e protetores experimentados na infância, capazes de consolidar bases seguras, para que na vida adulta, seja possível lidar com as perdas e frustrações. Vazios não preenchidos, resultam na sensação de não ser, insatisfação crônica e no sentimento constante de abandono, incapacidade, desvalia, medo, solidão e insegurança, sendo estes os maiores responsáveis pela famosa angústia. A sensação de sentir algo que não é possível de distinguir o que é, de onde vem e para aonde vai, chama-se angústia, sendo o sentimento que circula em forma de inquietação mental e sofrimento crônico sem nome e origem.
A psicoterapia é um espaço que oportuniza a ressignificação de espaços não preenchidos. Através da relação terapêutica, o paciente é acolhido, protegido, validado, compreendido e reconhecido. A partir desta experiência corretiva emocional, criam-se possibilidades na vida mental, capazes de fortalecer a base frágil e vulnerável, favorecendo condições psíquicas para que o individuo consiga relacionar-se de um modo diferente consigo e com outro. Os sentimentos ganham nome, sentido e representação, sendo possível desta forma, a integração entre experiências e afetos que circulam em forma de angústia. O fortalecimento da base psíquica, a ressignificação das necessidades emocionais não atendidas, a nomeação e integração de afetos às suas origens e o auto conhecimento, são recursos proporcionados pela psicoterapia, capazes de auxiliar o individuo em seus processos de mudança , bem estar e equilíbrio psíquico.
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