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domingo, 13 de setembro de 2015

Debates e Discussões – O que tem por trás das conversas



Nos vários diálogos que tive com certos tipos de intelectuais, observei que o poder dos mesmo se encontrava mais na indução de insegurança, ira e confusão no outro do que na coerência das ideias que defendiam. Observei também que tendem a relutar em ir para o confronto direito, incisivo e concentrado, preferindo desconcertar o interlocutor com indiretas que o deixam na duvida a respeito de estar ou não sendo atacado.

As armas mais proeminentes que verifiquei foram o sorriso cínico associado a calma e a fala debochada não assumida. São elementos que parecem sustentar-se na sensação de auto induzida de se estar no controle da situação e que possuem grande poder magnético de indução e grande impacto emocional em pessoas abertas e indefesas (os espectadores de plantão).

Ao ser o interlocutor forçado a cair em estados emocionais desfavoráveis, seu fluxo de ideias, sofre um interrupção, o que o leva a girar em círculos a procura da melhor reação, das melhores frases a serem ditas e das melhores ideias a serem expressas.

Para nos protegermos e refratarmos esses fluxo de força é imprescindível mantermos a calma ao máximo, relaxando enquanto aplicamos uma sobreposição concentrada de nossa ideia com descarte total das ludibriadoras ideias e falas alheias. Assim raptamos ao intelectual a sensação de controle e firmeza que induziu a si mesmo com o ponto de apoio.

O fundamento da sobreposição concentrada da ideai é a colocação do nosso ponto de vista durante as pausas no monólogo que o intelectual pretende instalar aliada a manutenção de uma ausência total de reação.

O Melhor momento para desferir os ataques é durante as pausas que o oponente realiza para respirar ou para organizar as ideias. Entretanto, se o manipulador do intelecto for muito louco, daqueles que gritam sem pauses, talvez tenhamos que cortar sua fala ao meio, falando simultaneamente.

Segundo a compreensão média, comum e corrente, aquele que mais ataca durante uma discussão é o vencedor. Os leigos pressupõem que aquele que fala muito sabe mais e possuí mais informações do que o oponente (mesmo que as informações tenham pouco ou nenhum valor), ainda que fale apenas besteiras. Entretanto, a prática de muito falar é desgastante. O melhor nesses casos é deixar que o oponente fale bastante pra se cansar, e de tempos em tempos, ataca-lo fulminantemente em suas pausas. Use um tom de voz imperativo e dominante. Não corra atrás de erros e enganos de seu oponente e nem tampouco alimente a ilusão de poder leva-lo a reconhecer seu erro. Não perca tempo na defensiva. Se quiser explicar suas razões faça-o de uma forma direta, sem perseguir a fala de seu inimigo.

Devemos desenvolver a capacidade de encontrar as respostas a serem ditas sem preparo prévio, como se faz no Jeet Kune Do com os movimentos do corpo, no Jazz e no Flamengo com as frases musicais.

A parada psíquica resulta da tendência em ficarmos procurando a melhor resposta ou reação ao momento. O caminho de superação é o de iniciarmos emitindo respostas errôneas ao mesmo tempo em que vamos corrigindo progressivamente. Para tanto, convém encontrar situações de treino altamente realistas nas quais os erros possam ser cometidos ilimitadamente mas sem risco real para nossa integridade (para o música seria os ensaios, e para o boxeador seria o sparing).

Podemos sintetizar os mecanismo sabotadores da análise nas polêmicas do seguinte modo:

Ø     Intervenções que afastam a atenção e o pensamento da questão principal em discussão.

Ø     Intervenções que tem o efeito de atingir o sentimento, levando a confusão e discussão.

Ø     Intervenções múltiplas, contínuas e rápidas que não permitem que o pensamento do interlocutor seja exposto e acompanhado.

Ø     Utilização de voz alta e dominante para provocar o medo.

Ø     Alusões a aspectos delicados da vida pessoa do interlocutor.

Ø     Tentativas de diminuir ou envergonhar o interlocutor.

Precisamos treinar para sermos impenetráveis a todas as formas de feitiço apontados acima. Nenhuma deve ser capaz de afetar nosso ânimo. Se nos mantivermos firmes e inacessíveis como uma rocha enquanto expomos nossas ideias, ignorando totalmente as falas inúteis do manipulador, seu feitiço será lançado de volta, pela lei do movimento espetacular, atingindo-o. Então veremos surtar loucamente ou ser capaz de ver o próprio erro, e correr para longe não querendo admiti-lo.

Certos charlatões materialistas dogmáticos, céticos unilaterais, ortodoxos conservadores, fanáticos religiosos e outros sofistas inimigos da verdade rejeitam o estudo metódico por inquirição em estilo socrático. Tentam convencer confundindo ao invés de buscarem convencer esclarecendo porque vencer as discussões é sua meta única e maior, pela qual estão apaixonados. Não almejam estudar e compreender em comunhão com o interlocutor. Rechaçam o estudo sincero e imparcial e a compreensão dos temas sob o ponto de vista alheio. Quando os pontos nevrálgicos de suas teorias são tocados por perguntas incisivas, lançam mão de estratégias ludibriadoras para distrair o inquiridor: falam muito ou lançam vários questionamentos recheados por termos provocativos com o intuito de desviar a atenção dos pontos fracos de suas hipóteses para assim mantê-los ocultos. Quando encurralados, se enfurecem para amedrontar. Em última instância, estão comprometidos em defender as próprias ideias e não se interessam em estudar.

A disposição que os sofistas possuem para o estudo verdadeiro é apenas parcial, relativa, pois a sustentam somente até o momento em que as falhas lógicas nos pontos nevrálgicos de suas teorias são expostos. A partir dai a disposição para o estudo termina. Não possuem preparo psicológico para os desconfortos da analise e carecem de uma capacidade fundamental em qualquer analista: a de trocar o pondo de vista continuamente.

Podemos concluir assim que os sofistas charlatões defendem suas mentiras por serem estupidamente ignorantes ou talvez, na pior das hipóteses, por serem terrivelmente mal intencionados. Assim opera neles o magnetismo.

Observamos como se discute charlatões em geral. Devemos nos ater ao ponto nevrálgico que dá origem a discussão e resistir a toda investida  que possa nos distrair e desviar o rumo da analise.

Os charlatões necessitam, pelo própria natureza de seus objetivos desonestos, impedir a analise esclarecedora e instalar a confusão, já que é somente assim que mentiras e hipóteses mal elaboradas podem resistir. Para tanto, costumam principiar a discussão em torno de um ponto e em seguida, inserem, propositalmente, muitos outros pontos na discussão para torna-la caótica. Estes pontos inseridos astuciosamente aparentam ter ligações com o tema estudado, mas na verdade apenas se destinam a distrair e confundir o pensamento, gerando o que chamo de caos dialógico. Este casos dialógico então camufla as incoerências e falhas lógicas dos raciocínios falaciosos fazendo as mentiras parecerem verdades e as verdades parecerem mentiras.

É por esta razão que os juízes não permitem discussões em tribunais mas apenas inquirições, pois sabem muito bem que as piores pessoas costumam ser as melhores na arte de ludibriar. É pela mesma razão que os filósofos antigos decidiam antecipadamente quem iria perguntar e quem iria responder.

Combate-se facilmente tais artimanhas por meio de concentração e da recordação de si mesmo. Primeiro: deve-se capturar o ponto nevrálgico da discussão e não larga-lo de maneira alguma. Segundo: deve-se resistir a todas as tentativas de indução de fascinação e distração. É indispensável jamais correr atrás dos equívocos manifestados pelo opositor na tentativa de fazê-lo compreender e admitir seu erro pois é exatamente isso o que ele quer. Ao perder tempo tentando convencê-lo, você se distrai e deixa de aprofundar o ponto que o espertinho quer manter oculto.

Os charlatões sofisticam-se na arte de fascinar e distrair. Enquanto estão conseguindo fascinar, estão no comando, manipulando as crenças, sentimentos e pensamentos do opositor. Se, entretanto, este se torna refratário as fascinações, isto é, se passa a ignora-las totalmente e continua em seu pensamento, a tentativa de indicação de sentimentos fracassa totalmente. Então acontece algo curioso: o velhaco é atingido pelo fluxo de energia  que criou na mesma proporção de seus esforços para nos fascinar. Quanto maiores os esforços para manipular nossos sentimentos, maior a frustração ao não consegui-lo. Então vários sentimentos negativos o invadem, do mesmo modo que seriamos invadidos caso não houvéssemos caído em seus jogos.

Uma pessoa absolutamente cética é imune ao poder de um feiticeiro. Se um cético for enfeitiçado, isso indica que seu ceticismo não foi absoluto, que houve uma vacilação inconsciente.

O mesmo processo se verifica na sedução. Uma mulher invulnerável ao poder de um sedutor quando não crê que ele tenha algo que lhe interesse e, por extensão, o poder de atraí-la. Entretanto, algumas vezes cremos estar invulneráveis ao poder de alguém em um primeiro momento, e em outra situação, o surgimento de algo novo e ainda não conhecido por nós faz a convicção anterior ruir. Então ficamos vulneráveis.

O encantamento requer o conhecimento prévio das debilidades de quem vai ser encantado. Não é possível que alguém seja encantado em uma direção contrária as suas fraquezas.

O encantamento apenas ocorre na direção das fraquezas previamente existentes, sejam elas conscientes ou inconscientes. Trata-se, portanto da instrumentalização ou aproveitamento de impulsos que já existiam: uma forma perversa de se aproveitar das fraquezas do próximo e violentar seu libre arbítrio.


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Fonte: Livros de Nessahan Alita (são 5 livros e pode encontrar todos online e totalmente gratuito). 
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